segunda-feira, 21 de maio de 2012

Excesso de trabalho é prejudicial à saúde da mulher

Uma pesquisa realizada pela Agência de Saúde Pública de Barcelona, na Espanha, revelou que jornadas de trabalho maiores que 40 horas semanais podem acarretar problemas físicos e emocionais mais sérios do que se imagina.

As mulheres são alvo fácil desses problemas, pois além de trabalharem fora de casa, cumprem tarefas domésticas e acumulam mais responsabilidades.
Isso faz com que elas se sintam mais pressionadas em relação aos seus papéis e culpadas quando não conseguem suprir as expectativas familiares e profissionais.


Entre as doenças que podem aparecer, o estresse (que envolve dores de cabeça, insônia, gastrite, diarréia, queda de cabelo e alterações menstruais) é a mais comum. Outras, como a depressão, a ansiedade e os problemas cardíacos, são consideradas mais sérias. A psicóloga Marcelly Pimentel acredita que o lado emocional da mulher é o mais abalado nestes casos. "O excesso de trabalho causa a falta de paciência com as pessoas mais próximas, como familiares e parceiros, aumenta o estresse no trânsito (já que saem cansadas do trabalho), faz com que a mulher não tenha tempo para se cuidar e fazer as coisas que gosta", afirma a especialista.

Como as mulheres passam a maior parte do tempo realizando atividades profissionais, acabam deixando de lado outras tarefas que são essenciais para seu bem-estar, como a prática de exercícios e momentos de lazer. Além disso, pode ocorrer o agravamento de problemas já existentes, entre eles, a hipertensão e o aumento do consumo de cigarros. Também é muito comum elas apresentarem alterações hormonais e psicológicas.

A advogada Patrícia Veiga sofreu severas conseqüências por causa do excesso de trabalho e preocupações. Aos 34 anos, ela tornou-se sócia do escritório de advocacia onde trabalhava e, como a empresa estava em expansão, se dedicou ao máximo à carreira. "Como o quadro de funcionários estava sendo reformulado, eu acabei assumindo outros cargos além do meu. Em alguns dias, cheguei a sair às três horas da madrugada do escritório. Na época, eu estava divorciada e não tinha filhos. O trabalho era meu maior objetivo, além de ser meu passatempo também", conta ela.

Patrícia entrou em estado de depressão profundo e isso ainda lhe trouxe problemas hormonais. Sua menstruação começou a ficar desregulada e o temperamento também sofreu oscilações. Aos 36 anos, a advogada teve menopausa precoce. "Eu já estava esgotada com o trabalho e o fato de ter tido amenorréia me levou à depressão, pois eu sempre quis ter filhos e sabia que não seria mais possível", conta Patrícia, que casou pela segunda vez aos 35 anos.

Ainda de acordo com o estudo, realizado com cerca de 2.800 pessoas de diversos ramos e classes sociais durante um ano, 17,1% das mulheres analisadas ultrapassam a jornada de 40 horas semanais, considerada normal ou até mesmo mínima no Brasil.

A psicóloga Ana Maria Cabrera, que tratou de Patrícia durante dois anos e meio, se enquadra no grupo avaliado e atende pacientes que desenvolvem doenças devido ao excesso de trabalho. A especialista conta que já chegou a trabalhar mais de 10 horas diárias no consultório, além de ministrar cursos e palestras que ocupavam cerca de três horas do seu dia. Ana Maria, no entanto, nunca teve doenças devido ao excesso de trabalho, pois para ela o trabalho sempre foi algo muito gratificante: "Sempre gostei muito do meu trabalho e me dedicava a ele da mesma forma, antes de me separar do meu ex-marido. Além disso, tinha que me manter e sustentar minha filha. A única coisa que me sentia culpada era de não poder estar presente em alguns momentos da infância dela, como levá-la às aulas de inglês e aos treinos de vôlei", conta.

A pesquisa também constatou que o ambiente de trabalho inadequado, a insatisfação com o emprego, os baixos salários e as horas extras contribuem para o aumento de tais problemas. Segundo a psicóloga, muitas de suas pacientes têm estresse, enxaqueca e somatizam doenças físicas por desgaste no trabalho. "Pude constatar que a maioria delas não trabalha no que gosta ou está insatisfeita com o emprego. Essas mulheres não têm objetivo de vida, algo pelo qual valha a pena lutar. Quando elas se conscientizam do problema e procuram o que gostam, as doenças tendem a desaparecer, dando espaço à alegria", afirma ela.

Marcelly Pimentel aposta nas terapias alternativas para amenizar o problema, como a ioga e a meditação, e acredita que as mulheres se sentem obrigadas a se dedicar mais ao mercado de trabalho do que os homens. "A mulher tem que se impor mais. Por ser considerada "sexo frágil", acaba sendo "pisoteada". Ela sente uma necessidade natural de ser mais ativa", explica a especialista.

Pesquisas do mesmo tipo já haviam sido realizadas. Em 1974, especialistas norte-americanos comandaram um estudo semelhante a esse e denominaram o problema como Síndrome do "Burnout" (em inglês, esgotamento pelo consumo excessivo de energia). Tal análise havia identificado outro perfil de mulheres atingido por essa síndrome. Geralmente, elas são profissionais que lidam com outras pessoas e se sentem responsáveis por suas vidas de alguma maneira, como médicas, psicólogas, professoras, comunicólogas, etc.

Muitos desses problemas surgem por uma cobrança do próprio profissional. Os mais detalhistas, exigentes, dedicados e também os que têm maior dificuldade em encontrar soluções para problemas de trabalho estão mais propensos a desenvolver doenças. "Quando a pessoa enfrenta problemas como esses, os primeiros sintomas que aparecem são as oscilações de humor. Elas se sentem sobrecarregadas e acabam cobrando ou descontando nos outros sua insatisfação", afirma Ana Maria Cabrera.

A psicóloga ainda acrescenta que "a primeira coisa a fazer é reconhecer que está com dificuldade e depois procurar saídas, como terapia, algum exercício físico, algum hobby. Enfim, algo que goste e que a faça se sentir viva. Já as empresas podem colaborar proporcionando momentos de descanso durante o dia, oferecendo exercícios de relaxamento ou qualquer atividade que permita desviar a atenção da rotina do funcionário do trabalho. Algumas empresas em que dei consultoria colocaram música ambiente relaxante e intervalos a cada quatro horas para descontração", conta a especialista.

Por:
Helena Dias
Agência MBPress

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