Os povos que habitam as bordas do mar Mediterrâneo vivem bem - e grande parte do mérito se deve a sua dieta naturalmente saudável, cheia de pequenos hábitos alimentares que fazem toda a diferença. Há milênios os mediterrâneos preferem o azeite - extraído das azeitonas que sempre foram fartas nas terras áridas da região à manteiga, que nunca foi abundante por ali. Como não há pasto, não há fartura de carne ou leite. Mas sobram peixes e frutos do mar. E, em um clima quente e ensolarado como aquele, há uma profusão de frutas e vegetais, que são consumidos frescos ou secos. Assim, conduzidos pela escassez, os povos da região desenvolveram sem notar uma dieta saudável, com pouco colesterol, o que resulta em baixíssimos índices de doenças cardíacas, diabetes, hipertensão e obesidade.
Estilo de vida
A fórmula da vida longa às margens do Mediterrâneo extrapola as linhas do cardápio. Nessa região de praias ensolaradas e antigas oliveiras retorcidas pelo vento, vive-se por prazer, e ele está nas coisas simples, como o ato de cozinhar e de alimentar-se, aos quais se dedica outra coisa: tempo. Faz parte da tradição mediterrânea doar-se à mesa e não encaixar as refeições entre uma atividade e outra.
Com tempo, é possível apreciar melhor a comida e, assim, ativar o centro de saciedade no cérebro, explica a nutricionista Vanderli Marchiori. Alimentar-se com calma e prazer é acertar na quantidade de comida de que o corpo precisa, o que significa ingerir calorias sem excesso.
Outra característica mediterrânea igualmente prazerosa e saudável é a sequência de pratos de uma refeição, servida em pequenas porções. Entre a entrada e a sobremesa, podem chegar à mesa mais de 20 iguarias. Nesse delicioso costume reside a variedade e a parcimônia, ou seja, come-se de tudo um pouco. Primeiro benefício: uma dieta variada é sinônimo de saúde. Segundo: alimentos bastante calóricos e saudáveis, como o azeite de oliva e as nozes, não viram vilões.
O cio da terra
No Mediterrâneo, as pessoas se alimentam de acordo com as estações do ano - pois não encontram todas as hortaliças disponíveis durante todos os meses no mercado. "No final do verão, há pilhas de berinjelas, abobrinhas, pimentões e tomates, e então se fica sabendo que é época de ratatouille, um prato de cozido de legumes", diz a escritora Paula Wolfert, que dedicou 35 anos em pesquisas de campo. Ela verificou que o apreço pelo produto da estação tem efeito benéfico na culinária mediterrânea, obrigando cozinheiros a inventar diversas maneiras de preparar alimentos que se tornariam enjoativos se servidos sempre do mesmo modo.
Com pratos criativos e muito saudáveis à mesa, a dieta mediterrânea só estará completa se houver companhia. "Comer e partilhar são atos inseparáveis", escreveu Paula. Para seus habitantes, cultuar o corpo tem outro significado: é abastecer-se da energia de alimentos e de momentos prazerosos para assim manter as atividades corriqueiras e a saúde em dia.